Gabas, o ministro araçatubense

Bruna Bertolino
Emanuel Naba

Gabas e Lula em Brasília

Um simples servidor público ultrapassou barreiras e conquistou um posto que em 86 anos nunca havia sido atingido por nenhum trabalhador de carreira: ministro da Previdência Social. Trata-se de um dos cargos mais importantes dentro do governo de um país. Carlos Eduardo Gabas assumiu a função de 24º ministro da Previdência Social da história do instituto, após passar pela Secretaria Executiva do Ministério da Previdência Social, em 2005, e pela Superintendência Estadual do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) em São Paulo, em 2003. Na Previdência, passou a coordenar, de modo efetivo, cerca de 1.172 agências do INSS e administrar mais de 40 mil funcionários em todo o País. O objetivo era dar continuidade ao trabalho que vinha sendo executado e divulgar, expandir e melhorar a Previdência Social brasileira, que serve de modelo aos demais países do mundo. Carlos comenta que a responsabilidade aumentou muito.

Para driblar as adversidades do dia a dia, ele conta com a ajuda dos companheiros de trabalho e, principalmente, de seus anjos protetores, realçando sua fé e humanidade. “Deus sempre está comigo em minhas decisões”, conta Gabas.

O ministro dedica cerca de 14 horas diárias ao trabalho para que a Previdência avance, de modo a dar tanto ao servidor quanto ao cidadão o que há de melhor no órgão. “Hoje, minha tarefa é proporcionar aos servidores todas as condições para um bom atendimento, além de pensar e colocar em prática projetos que melhorem cada vez mais os serviços prestados à sociedade.” Além disso, o ministro tem a responsabilidade de assessorar diretamente o presidente da República no que diz respeito às políticas ligadas à Previdência.

Sendo assim, ele propõe soluções para as questões relacionadas ao Ministério, inclusive alterações legais e demais normas que permitam o cumprimento de suas missões. Mas, acima de tudo, ele carrega a responsabilidade de ser o ministro mais querido pelos aposentados brasileiros. Essa consideração se deve tanto por ele conhecer todos os setores da Previdência, quanto por deter jogo de cintura político para superar qualquer adversidade, tornando-se “O Ministro da Esperança” para a maioria dos aposentados e pensionistas do Brasil.

INFÂNCIA

No dia 27 de fevereiro de 1965, em um bairro de classe média baixa de Araçatuba, interior de São Paulo, Carlos Eduardo Gabas nasceu de um parto repentino, que durou cerca de cinco horas e meia, na casa de seus pais, Nilson e Maria Aparecida.

O garoto viveu sua infância de forma descontraída e dinâmica. Seu passatempo preferido era sair com os primos e amigos para pescar em uma lagoa, chamada de Miguelão, próxima à sua casa. Assim como qualquer garoto ativo de sua idade, o futebol estava sempre presente em suas brincadeiras, juntamente com Nilson Gabas Júnior, seu irmão mais velho e parceiro preferido nas peladas.

Muitas das amizades da infância são mantidas até hoje. “Carlinhos era uma criança levada, agitada, entretanto, muito responsável desde cedo, inclusive em relação aos estudos”, garante o pai. Durante o ensino fundamental, estudou na Escola Estadual Professor Genésio de Assis, onde conseguiu se destacar como excelente aluno. Hélio Consolaro, seu então professor de Língua Portuguesa entre os anos de 1977 e 1979, conta que Gabas sempre foi um aluno responsável, fazia as tarefas com assiduidade, lia os livros recomendados, e enfatiza: “Excelente aluno”. “Recebíamos diversos elogios de nosso filho na escola, inclusive bilhetes dos professores parabenizando-o pelo seu desempenho no colégio”, conta a mãe.

No ensino médio, Gabas ingressou no Colégio Anglo, de Araçatuba, assim como seus três irmãos, Nilson Jr., Ana Lúcia e Cláudia Cristina. Seu primeiro emprego foi em um banco de Araçatuba. O jovem iniciou o nível superior estudando Ciências Contábeis, nas Faculdades Católicas Salesianas, em Araçatuba. Depois, fez pós-graduação em Gestão de Sistemas de Seguridade Social pela Universidade Federal de Madri, Alcalá de Henares (Espanha). Também cursou especialização em Gestão de Qualidade, com foco no Atendimento do Serviço Público, na Enap (Escola Nacional de Administração Pública) e FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Segundo a mãe do ministro, Gabas nunca compartilhou um sonho para seu futuro enquanto criança, somente se dedicava aos estudos e compromissos cotidianos de forma responsável, entretanto, sua dedicação o brindou com muitas surpresas e sucessos na área profissional.

CARREIRA

Carlos Eduardo Gabas ingressou no serviço federal por meio de um concurso público realizado em 1985, onde obteve a 1º colocação. Assim, ele assumiu o cargo de agente-administrativo do extinto Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (Iapas), que, junto com o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), deu origem ao INSS, segundo contou o pai, emocionado.

A mulher do ministro, Polyana Mitidiero Silva Gabas, também aprovada no concurso, foi convocada alguns meses depois para trabalhar no órgão. Em Araçatuba, ele iniciou sua carreira em 1986, como agente-administrativo. Também atuou como consultor e avaliador, entre 2001 e 2002, no Programa de Qualidade do Governo Federal, ano em que assumiu a Coordenadoria de Qualidade do Governo Federal, intitulado “Novo Modelo de Gestão do INSS”.

Com trabalhos dedicados à melhoria e ampliação da Previdência brasileira, e pela luta da organização de um novo modelo de seguridade social, em janeiro de 2003 foi convidado pelo então ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoine, para assumir a Superintendência Estadual do órgão federal em São Paulo. Segundo Gabas, “O convite foi totalmente inesperado. No início, fiquei bastante preocupado, mas logo percebi que, com muito trabalho, daria conta da tarefa”. Em 2005, devido ao excelente trabalho prestado e projetos vultosos criados, foi convidado a integrar a principal equipe do Ministério da Previdência Social em Brasília, se tornando secretário-executivo, cargo que é o braço direito do ministro da Previdência Social.

Durante esse período, teve participação efetiva na elaboração de vários projetos que se tornaram importantes leis, entre as quais, o Nexo Técnico Epidemiológico – NTEP, referente à inversão do ônus da prova em casos de acidente de trabalho e doenças profissionais; e a criação da Superintendência Nacional de Previdência Complementar, o Previc. Ainda como secretário-executivo, foi presidente da Organização Ibero-americana de Seguridade Social (OISS).

Ele teve participações efetivas em negociações de acordos internacionais de Previdência Social com Japão e Estados Unidos, os quais garantem proteção a cidadãs e cidadãos brasileiros que residem no exterior. Carlos Eduardo Gabas presidiu a Reunião Tripartite de Especialistas sobre estratégias para a extensão da cobertura da seguridade social, realizada na sede da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, Suíça.

O professor e amigo Hélio Consolaro afirma que quando assiste Gabas dando entrevistas na TV, ainda enxerga o menino da década de 70. “O sucesso dele serve de exemplo para os jovens. (...) Não podemos desanimar nem achar que tudo está perdido, há uma faixa em que a energia pessoal vale muito para furar os bloqueios.”

Gabas foi condecorado com diversos prêmios entre eles, o de melhor funcionário do INSS do Brasil; cidadão honorário da cidade de Imperatriz do Maranhão; e até Comendador. Em Araçatuba, sua cidade, recebeu Voto de Aplauso dado pela Câmara Municipal.

CARINHO

Os cidadãos araçatubenses avaliaram com bons olhos a nomeação de Gabas para o Ministério da Previdência Social. Para eles, esta é uma das melhores escolhas feitas pelo presidente Lula, admitindo pela primeira vez um servidor no comando da Previdência. “Foi excelente a escolha de Carlos para o comando da pasta da Previdência do Brasil. Nada melhor que um funcionário de carreira, que conhece de fato todos os pontos que precisam ser melhorados e sabe como podem ser melhorados, trabalhando para o bem comum do cidadão. Além de ser um homem inteligente, ele modificou e melhorou a vida de muitos que dependem da seguridade para viver”, afirmam Richard Moreira e Sergio Américo dos Santos, funcionários públicos de carreira que, juntos, somam quase 50 anos de trabalhos dedicados ao município de Araçatuba.